Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva
O que é o transtorno do pânico?
O transtorno do pânico não se trata de uma "fraqueza emocional" como muitas pessoas imaginam. É uma doença grave e incapacitante que traz sérios danos à vida de seus portadores.
Ocorre sob a forma de crises súbitas e inesperadas, que podem incluir os seguintes sintomas:
Dispnéia ou sensação de asfixia
Vertigem, sentimentos de instabilidade ou sensação de desmaio
Palpitações ou taquicardia
Tremor ou abalos
Sudorese (suor excessivo)
Sensação de sufocamento
Náuseas ou desconforto abdominal (alteração intestinal)
Despersonalização ou distorções de percepção da realidade
Anestesia ou formigamento
Ondas de calor ou calafrios
Dor ou desconforto no peito
Sensação de morte iminente
Medo intenso de enlouquecer ou cometer ato descontrolado
Por que ocorre?
O cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação que ocorre entre os neurônios (células do sistema nervoso). Estas comunicações formam mensagens que irão determinar a execução de todas as atividades físicas e mentais de nosso organismo (ex.: andar, pensar, memorizar, etc.).
Um desequilíbrio na produção destes neurotransmissores pode levar algumas partes do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos. Isto é exatamente o que ocorre em uma crise de pânico: existe uma informação incorreta alertando e preparando o organismo para uma ameaça ou perigo que na realidade não existe. É como se tivéssemos um despertador que passa a tocar o alarme em horas totalmente inapropriadas. No caso do transtorno do pânico os neurotransmissores que se encontram em desequilíbrio são: a serotonina e a noradrenalina.
O transtorno do pânico é um problema sério?
O transtorno do pânico é considerado um problema sério de saúde, que acomete 1,5% a 3% da população mundial. No caso das mulheres, os estudos revelam que elas apresentam duas a quatro vezes mais chances de ocorrências que os homens. Além disso, temos de destacar a significativa presença de uma propensão genética ao transtorno, uma vez que observamos, de forma nítida, maior incidência do transtorno entre pessoas cujas famílias possuem descrições de casos semelhantes.
Há muito que o transtorno do pânico deixou de ser um diagnóstico de exclusão. Hoje, mais do que nunca, há necessidade de um diagnóstico de certeza para tal entidade clínica.
As pessoas portadoras deste mal costumam fazer uma verdadeira "via-crucis" a diversos especialistas médicos (doctor shopping) e após uma quantidade exagerada de exames complementares recebem, muitas vezes, o patético diagnóstico do "NADA", o que aumenta sua insegurança e seu desespero.
Por vezes, esta situação dramática é reduzida a termos evasivos como: estafa, nervosismo, estresse, fraqueza emocional ou "problema de cabeça". Isto pode criar uma incorreta impressão de que não há um problema de fato para tal patologia.
Qual a população mais atingida?
Os portadores do transtorno do pânico, em sua maioria, são pessoas jovens (entre 15 e 30 anos de idade), que se encontram na plenitude de suas vidas profissionais, o que não exclui a ocorrência em qualquer faixa etária.
O perfil da personalidade das pessoas que sofrem do transtorno do pânico costuma apresentar aspectos em comum: geralmente são pessoas extremamente produtivas em nível profissional, costumam assumir uma carga excessiva de responsabilidade e afazeres, são bastante exigentes consigo mesmos, não convivem bem com erros ou imprevistos, têm tendência a se preocuparem excessivamente com problemas cotidianos etc. Esta forma de ser acaba por predispor estas pessoas a situações de estresse acentuado, fato este que pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro, desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e, consequentemente, o aparecimento do transtorno do pânico.
Outro fator importante no surgimento do transtorno do pânico é o fator hereditário (genético), uma vez que ele ocorre com maior frequência em familiares com história positiva para tal patologia.
Vale ressaltar, ainda, que alguns medicamentos como anfetaminas (usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy etc.) podem aumentar a atividade e o medo, promovendo alterações químicas que podem levar ao transtorno do pânico.
Existe tratamento para este tipo de problema?
Existe uma variedade de tratamentos para o transtorno do pânico. O mais importante neste aspecto é que se introduza um tratamento que vise restabelecer o equilíbrio bioquímico cerebral numa primeira etapa. Isto pode ser feito através de medicamentos seguros e que não produzam riscos de dependência física dos pacientes.
Numa segunda etapa temos que preparar o paciente para que ele possa enfrentar seus limites e as adversidades vitais de maneira menos estressante. Em última análise, trata-se de estabelecer junto com o paciente uma forma de viver onde se priorize a busca de sua harmonia e equilíbrio pessoal. Uma abordagem psicoterápica específica deverá ser realizada com esse objetivo.
Qual a probabilidade de cura?
O sucesso do tratamento está diretamente ligado ao engajamento do paciente com o mesmo. É importante que a pessoa que sofre de transtorno do pânico entenda todas as peculiaridades que envolvem este mal e queira fazer uma boa "aliança terapêutica" com seu médico, no sentido de juntos superarem todas as adversidades que poderão surgir na busca do equilíbrio pessoal.
O transtorno do pânico pode levar a morte?
Um ataque de pânico é um período inconfundível, de imenso medo ou temor, que atinge o ápice (pico) em dez minutos, e costuma se estender por um total de 40-50 minutos. Ele se constitui em uma das situações mais angustiantes que uma pessoa pode vivenciar.
Durante a crise o paciente não corre o risco de sofrer de um ataque cardíaco ou morrer, embora seja impossível para ele acreditar nisso no momento da mesma. Os prejuízos causados pelo transtorno do pânico modificam toda a existência do paciente, trazendo problemas nos seus relacionamentos interpessoais, principalmente os de caráter afetivo e profissional. Cônjuges, amigos e parentes não reconhecem mais a pessoa que antes se mostrava jovial, produtiva, destemida, ao se depararem com alguém dominado pelo medo.
A falta de diagnóstico precoce e tratamento adequado podem fazer com que, gradativamente, o medo e a ansiedade causados pelas crises tomem proporções tais, que seus portadores tornem-se incapacitados para dirigir, frequentar determinados locais (bancos, shoppings etc.) ou mesmo sair de casa. Esta situação de ostracismo forçado pode levar o paciente ao desespero e a pensar em suicídio como opção de acabar com todo esse sofrimento.
Onde se deve procurar um tratamento?
Tendo em vista as particularidades do transtorno do pânico em seus vários aspectos (personalidade do indivíduo, abordagem do paciente, tratamento, diagnóstico precoce etc.), sugerimos que este problema deve, preferencialmente, ser tratado por um médico especializado e familiarizado com tal transtorno. Para obtenção de informações sobre os tratamentos específicos do transtorno do pânico deve-se procurar:
Hospitais universitários;
Serviços psiquiátricos de hospitais gerais;
Serviços privados (clínicas, consultórios) especializados no tratamento do transtorno do pânico;
Associações psiquiátricas.
Fonte: Livro Mentes com Medo: da compreensão à superação.
* Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva (Médica Psiquiatra, CRM/RJ 5253226/7 e CRM/SP 113.092-S)
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