Por
Fernando Vieira Filho (1)
O
Transtorno obsessivo-compulsivo consiste na combinação de obsessões e
compulsões. O que são obsessões? São pensamentos recorrentes e insistentes que
se caracterizam por serem desagradáveis, repulsivos e contrários à índole da
pessoa.
Por exemplo, uma pessoa dócil tem
pensamentos obsessivo de brigas, discussões e de matar alguém; um religioso tem
pensamentos pecaminosos, obscenos e de sacrilégios. Os pensamentos obsessivos
não são controláveis pelas pessoas. Ter um pensamento insistente apenas pode
ser algo desagradável, como uma musiquinha aborrecida ou um problema não
resolvido, mas ter obsessões é patológico porque causa significativa perda de
tempo, qualidade de vida, queda no rendimento pessoal, queda de autoestima e
sofrimento pessoal. Como o doente perde o controle sobre os pensamentos, muitas
vezes passa a praticar ações ou atos que, por serem repetitivos, tornam-se
verdadeiros rituais. Muitas vezes têm a finalidade de prevenir ou aliviar a
tensão causada pelos pensamentos obsessivos.
Por exemplo, uma pessoa que toda vez que se lembra do pai acredita, que
isso provocará um acidente de carro. E para que isso seja evitado, o doente,
realiza certos gestos e até rituais para neutralizar o pensamento incoveniente.
Assim,
as compulsões podem acompanhar às obsessões. As compulsões são gestos, rituais
ou ações sempre iguais, repetitivas e incontroláveis. Um paciente com TOC que
tente evitar as compulsões acaba submetido a uma tensão insuportável, por isso
sempre cede às compulsões. Os doentes nunca perdem o juízo a respeito do que está
acontecendo com eles mesmos e percebem o absurdo ou exagero do que está se
passando consigo; mas como não sabem o que está acontecendo, temem estar
enlouquecendo e, pelo menos no começo tentam esconder seus pensamentos e
rituais. No transtorno obsessivo-compulsivo, os dois tipos de sintomas quase
sempre estão juntos, mas pode haver a predominância de um sobre o outro. Um
doente pode ser mais obsessivo que compulsivo ou vice-versa.
Sintomas
O
transtorno obsessivo-compulsivo é classificado como um transtorno de ansiedade
por causa da forte tensão que sempre surge quando o doente é impedido de
realizar seus rituais. Mas a ansiedade não é o ponto de partida desse
transtorno como nos demais transtornos dessa classe: o ponto de partida são os
pensamentos obsessivos ou os rituais repetitivos. Há formas mais brandas desse
distúrbio nas quais a pessoa tem apenas obsessões ou as compulsões são mais
discretas, sendo as obsessões pouco significativas.
Os
sintomas obsessivos mais comuns são:
1. Medo de
contaminar-se por germes, sujeiras etc.
2. Imaginar
que tenha ferido ou ofendido outras pessoas.
3. Imaginar-se
perdendo o controle, realizando violentas agressões ou até assassinatos.
4. Pensamentos
sexuais urgentes e que interferem na privacidade da pessoa.
5. Dúvidas
morais e religiosas.
6. Pensamentos
proibidos.
Os sintomas compulsivos mais comuns são:
1. Lavar-se
para se descontaminar .
2. Repetir
determinados gestos .
3. Verificar
se as coisas estão como deveriam, porta trancada, gás desligado etc.
4. Tocar
objetos.
5. Contar
objetos.
6. Ordenar
ou arrumar os objetos de uma determinada maneira.
7. Rezar
demais, em qualquer lugar.
Diagnóstico
Os sintomas obsessivos e compulsivos são exclusivos do
transtorno obsessivo-compulsivo, para fazer o diagnóstico. Contudo além dos
sintomas são necessários outros critérios. O tempo gasto com os sintomas deve
ser de no mínimo uma hora por dia ou quando o tempo for inferior a isso é
necessária a existência de marcante aborrecimento ou algum prejuízo pessoal. É
preciso que em algum momento o doente reconheça que o que está acontecendo seja
excessivo, exagerado, injustificável ou anormal. Isso faz com que a pessoa
imagine que está enlouquecendo e tente esconder o que se passa, fica assustado
e quando chega ao psicoterapeuta, apresenta essa preocupação. Ao contrário do
que se pode pensar a impressão que o paciente tem a respeito de si mesmo é um
sinal de bom funcionamento mental, pois ele consegue reconhecer algo de errado
em si mesmo. Os sintomas não podem ser dependentes de outro transtorno, por
exemplo se a preocupação tem como foco a possibilidade de ter novos ataques de
pânico não se pode fazer o diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo.
Incidência
Esse transtorno apresenta dois picos de incidência. O
primeiro na infância e o segundo em torno dos trinta anos de idade. Muitas
crianças apresentam esse problema nessa fase e depois não apresentam mais.
Outras continuam tendo durante a vida adulta. Os adultos também apresentam
oscilações do problema; podem ficar livres dos sintomas e dos remédios, mas
também podem precisar de medicamento de uso contínuo. Esse transtorno incide
aproximadamente com a mesma freqüência em homens e mulheres, com pequenas diferenças
de um para outro. Nas crianças se observa um aparecimento um pouco mais comum
nos meninos.
Tratamento
Quando os antidepressivos tricíclicos e os IMAO eram os
únicos antidepressivos no mercado, a clomipramina era a escolha de eleição e
primeira linha. A característica desse antidepressivo em relação aos demais era
sua relativa forte inibição da recaptação da serotonina. Acreditava-se desde
então que essa propriedade fosse responsável pelo efeito antiobsessivo.
Posteriormente constatou-se que isso era verdade. Hoje com várias medicações do
grupo dos inibidores da recaptação da serotonina (IRS), como a sertralina,
paroxetina, fluoxetina etc., as alternativas de tratamento são mais amplas e
eficazes.
Tem sido preconizado que o tratamento mais adequado é a combinação
da medicação farmacoterápica com as terapias cognitivo-comportamentais que combinadas apresentam bons resultados, assim como, a associação da terapia com
Florais de Bach e o tratamento com remédios homeopáticos. Enfim, a combinação
desses tratamentos é superior ao uso isolado de cada um deles. Juntos formam um
conjunto sinérgico muito positivo e eficaz para o paciente.
Recomendo também para que o doente busque uma atividade no
campo do voluntariado assistencial, em asilos ou orfanatos. O doente deve
buscar uma forma de desenvolver a religiosidade e a espiritualidade. Neste
processo de tratamento quando a família se envolve, o controle da doença
alcança um notável sucesso.
(1)Fernando Vieira Filho / Psicoterapeuta Clínico /
Palestrante
e autor do livro - Cure suas Mágoas e Seja Feliz! - Barany
Editora - São Paulo 2012
(55 34)
3077-2721 (Uberaba) E-mail: ffvfilho@terra.com.br
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