Da inatividade das escolas à hiperatividade dos alunos



Por  Fernando Vieira Filho (1)


Muito se fala em crianças com transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, os conhecidos TDAH, usuários da também famosa Ritalina (um estimulante do grupo dos anfetamínicos).

A característica básica do TDAH é a falta de persistência em atividades que requeiram atenção. As crianças diagnosticadas com este transtorno tentam fazer várias coisas ao mesmo tempo e além de não acabarem nada, deixam tudo desorganizado. Este problema incide mais sobre meninos do que meninas, sendo detectável em torno dos cinco anos de idade, ou antes, na maioria das vezes. O diagnóstico fica mais fácil depois que a criança entra para a escola, porque aí a comparação com outras crianças é natural, evidenciando-se o comportamento diferente. Mesmo aquelas crianças consideradas muito inquietas antes de entrarem para o colégio podem ficar comportadas e participativas; somente as crianças com algum transtorno não se adaptam.

Os três aspectos fundamentais são a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade.

A desatenção é caracterizada pela dificuldade de prestar atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares, dificuldade de manter a atenção mesmo nos jogos ou brincadeiras. A criança muitas vezes aparenta não escutar quando lhe dirigem a palavra, não seguir as instruções dadas e não terminar as tarefas propostas, dificuldade em organizar-se, evita atividades que exijam concentração, e perda constante de materiais próprios por distrair-se com facilidade perante estímulos alheios.

A hiperatividade caracteriza-se pelo constante mexer-se na cadeira, balançar as mãos e pés, abandonar a cadeira quando se esperava que permanecesse sentado, correr, escalar em demasia ou em situações onde isso seria inapropriado, falar em demasia, dificuldade de envolver-se silenciosamente em situações ou brincadeiras, dificuldade de permanecer realizando atividades mesmo que de sua preferência, dando a impressão de que está "sempre a mil".

A impulsividade caracteriza-se por dar respostas precipitadamente mesmo antes da pergunta ter sido completada, meter-se ou interromper as atividades dos outros e ter dificuldade de esperar a sua vez.

Crianças com déficit de atenção e hiperatividade costumam ser impulsivas e propensas a se acidentarem. Não tomam cuidado consigo mesmas nem com os outros, são socialmente desinibidas, sem reservas e despreocupadas quanto às normas sociais. Podem ser impopulares com outras crianças e acabam isoladas, sem se importarem aparentemente com isso. Como resultado da falta da persistência da atenção, se atrasam no colégio e no desenvolvimento da linguagem. A hiperatividade torna-se aparente quando numa turma da mesma idade todos colaboram e a criança hiperativa acaba tendo que ser retirada por impedir o prosseguimento da atividade. Essas crianças obviamente não sabem o que se passa com elas mesmas, por isso não se justificam e ficam sendo consideradas problemáticas, indisciplinadas, mal-educadas e despertam antipatias entre as pessoas responsáveis pelos seus cuidados.

Estamos no início do século XXI, computadores, laptops, IPhones, IPads, tablets de todas as marcas e preços e as crianças da atualidade, de uma forma ou outra, já estão em contato com estes aparelhos a partir dos primeiros anos de vida. Pais, parentes e amigos são unânimes em comentar: “Puxa vida! As crianças parecem que já nascem sabendo mexer nestas coisas eletrônicas!”.

Um belo dia chega o momento dessas crianças, impregnadas com a mais alta tecnologia, irem para a escola. E a nossa escola brasileira, será que ela está preparada para acolher essas crianças? Com exceção de algumas escolas de alto padrão, que estão acima das possibilidades econômicas da maioria da população, nossas escolas estão “estacionadas” em que época - na do brilhante pedagogo suíço Pestalozzi (1746-1827), na da educadora italiana Maria Montessori (1870-1952) ou na do suíço Piaget (1896-1980)?
Creio que o sistema educacional brasileiro ainda esteja nos padrões da década de 40 e início da de 50, que se pautava no método cartesiano e no tecnicismo das escolas militares. Com todo respeito à genialidade e dedicação destes brilhantes educadores e pedagogos de então, eles nem sonhavam com a variedade de mídias eletrônicas e de informação que dispomos hoje.
Se, em hipótese, pudéssemos “teletransportar” uma criança daquela época (em que só existiam o rádio e a incipiente televisão) para os dias atuais, ela seria considerada uma criança com alto grau de retardamento mental.
Aí eu me pergunto: como uma criança da atualidade - inteligente, curiosa, ávida por aprender coisas novas que as tecnologias eletrônicas oferecem aos montes e, que a cada 4 ou 6 meses apresentam novos avanços técnicos - aguenta assistir aulas numa escola pública brasileira, que ainda se arrasta em métodos pedagógicos arcaicos, de uma época em que computadores e celulares eram pura “ficção cientifica”?
Lamento pelas crianças de hoje que chegam à escola e encontram um panorama retrô, antigo e, digo, chatíssimo. E também pelos heroicos professores que além de baixos salários têm que conviver com uma incômoda sensação de fracasso profissional, de mãos atadas perante a insensatez e comodismo dos burocratas do Ministério da Educação do nosso país.
Portanto, a meu ver, para que as escolas saiam da inatividade desses longos anos e se tornem novamente atrativas para seus alunos, a única solução seria uma reforma no ensino, acompanhando a revolução tecnológica de nossos tempos. Só assim as crianças consideradas hiperativas conseguiriam manter-se atentas às aulas do dia-a-dia.

(1) Fernando Vieira Filho
Psicoterapeuta/Escritor
(55 11) 99684-0463 (São Paulo e Brasil)
(55 34) 3077-2721 (Uberaba)
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