Muito
se tem falado sobre o uso da maconha (Cannabis sativa) fazer menos mal que o do
cigarro e sobre o uso medicinal da maconha. É bom sabermos esta planta contém
mais de 400 substâncias químicas, das quais 60 se classificam na categoria dos
canabinoides, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde. O
tetra-hidrocarbinol (THC) é um
desses canabinoides e é a substância mais associada aos efeitos que a maconha
produz no cérebro. A concentração de THC na planta depende de alguns fatores,
como solo, clima, estação do ano, época da colheita, tempo decorrido entre a
colheita e o uso, condições de plantio, genética da planta, processamento após
a colheita etc., por isso os efeitos podem variar bastante de acordo com o
manejo de cultivo da planta.
O
uso da maconha não pode ser comparado ao uso do cigarro ou álcool em pequenas
quantidades. O cigarro nunca é saudável, mas não possui o efeito psicotrópico
da maconha, e é justamente sob este aspecto que fica a diferença. Uma pessoa
que use maconha tem como finalidade alcançar um estado diferente do normal; uma
pessoa que fume cigarro procura status ou prazer. O objetivo de alcançar um
estado diferente de percepção sentir-se como num sonho ou para relaxar-se,
indica que existe uma deficiência psicológica: os problemas externos são muito
fortes sendo necessária uma forma de compensação dessa tensão, ou o indivíduo
que fuma maconha está fraco o suficiente para não enfrentar seus problemas
naturais. O uso da maconha para ambas as situações é equivocado e levará a
problemas maiores. Nesse caso o problema não está na maconha, mas no
comportamento de fuga. A adolescência é a preparação para a vida adulta que por
natureza é mais difícil devido à maturidade que será alcançada com o tempo e
paciência. Quando um adolescente foge de seus problemas está plantando o hábito
da fuga para a vida adulta. Talvez, através da própria maconha quando for
adulto. A maconha dificilmente é usada com a mesma intensidade do cigarro. É
comum encontrar uma pessoa que fume vinte ou trinta cigarros por dia, mas mesmo
para o mais pesado usuário de maconha dificilmente chegaria a tanto. Como os
efeitos maléficos do cigarro são diretamente proporcionais a intensidade do
uso, dificilmente um usuário de maconha terá os mesmos problemas do usuário do
cigarro como câncer ou enfisema. Contudo os efeitos maléficos da maconha são
outros, atingem com certeza o comportamento e a personalidade dos usuários,
além da síndrome amotivacional atribuída ao uso pesado e prolongada da maconha.
A maconha talvez não encurte a vida de uma pessoa como faz o cigarro, mas
certamente compromete a qualidade dos anos vividos.
Efeitos
Biológicos
Imediatos
Durante
a fase de intoxicação que é quando se sente os efeitos considerados agradáveis
o usuário apresenta um avermelhamento dos olhos, aumento do apetite,
ressecamento da boca, aceleração dos batimentos cardíacos.
Os
efeitos mais comumente relatados quanto ao funcionamento mental são aumento da
sensibilidade aos estímulos externos revelando cores e detalhes não percebidos
antes. A percepção do tempo também é afetada passando a ser sentida como se
estivesse mais lento. Sensações de que o mundo está diferente, distante ou de
que houve uma mudança em si mesmo, como se não fosse a mesma pessoa ou se
estivesse sonhando. Como efeito imediato há um prejuízo na memória de curto
prazo, na amplitude da atenção, na capacidade de recordação e de reter
conhecimento. Prejuízo na capacidade de realizar tarefas que apresentem
múltiplas etapas. A capacidade de traduzir em palavras o que se pensa também
fica prejudicada. As capacidades motoras também ficam prejudicadas como a
capacidade de exercer a força muscular original, inibição dos reflexos,
descoordenação e desequilíbrio podem ocorrer em doses mais altas. O álcool
aumenta o prejuízo motor.
Longo
prazo
Tem
sido muito estudado os prejuízos permanentes que a maconha pode causar após o
uso pesado durante muito tempo, quinze anos, por exemplo. Os achados não são
conclusivos; não se pôde por enquanto confirmar nem descartar efeitos como a
síndrome amotivacional. Os testes neuropsicológicos não puderam detectar
prejuízos assim como os testes de imagens também não. A ausência de alterações
nos exames não pode ser considerada como ausência de prejuízo. Pode ser que não
haja nenhum, o que é pouco provável, pode ser que só aconteça numa parte dos
usuários, ou pode ser que nossos instrumentos e técnicas de pesquisa ainda não
sejam capazes de localizar o problema. Sabemos que o cérebro de uma pessoa com
profundo retardo mental é absolutamente normal sob todos os exames de imagem e
histopatológicos, mas é evidente que essa normalidade não corresponde à
realidade dessas pessoas severamente afetadas pelo retardo.
Efeitos
Psicológicos
Um
indivíduo de classe social média, saudável, com boa perspectiva de trabalho é o
perfil do usuário mais frequente de uso de maconha, embora a disseminação nas
classes mais baixas esteja se alastrando. Geralmente esses indivíduos acreditam
que não têm nada a perder experimentando a maconha. O resultado imediato do uso
é positivo: torna-se mais aceito em seu grupo, se beneficia dos efeitos e
inicialmente não há prejuízos em nenhuma área de sua vida. Assim sendo para
quem não acreditava que não tinha nada a perder passa a ter algo a ganhar: a
ligação com o uso passa a ser contínua com a permanente sensação de que pode
parar o consumo da maconha quando quiser. Essas são as situações mais comuns no
início e na manutenção do uso.
A
formação da personalidade, dos hábitos e do comportamento é derivada dos
valores e dos próprios hábitos ensinados. Quando o uso da maconha é realizado
na fase de formação dos valores, o valor da maconha por fazer parte da rotina,
dos pensamentos, dos planos e desejos constitui-se num valor, queira-se ou não.
Todo valor tem uma hierarquia e o comportamento das pessoas é decorrente desses
valores e dessa hierarquia. Quanto mais ligada à vida da pessoa, mais elevado o
valor da maconha. Amizades podem ser perdidas, namoros terminados, planos como
uma faculdade podem ser comprometidos. Quando a maconha é uma companheira
inseparável ela faz com que as companhias que a rejeitam sejam rejeitadas pelo
usuário. Quem rejeita a maconha são as pessoas que enfrentam os problemas e as
dificuldades da vida de mente sóbria. Por outro lado, como em todos os grupos sociais,
há uma busca pelo semelhante, então o usuário da maconha aceita e é aceito por
outros usuários, que também têm por hábito fugir da realidade. A constituição
desses grupos reforça a certeza de que consumir maconha é a coisa certa,
anestesiando o lado da personalidade que precisaria se desenvolver, que é a
capacidade de suportar frustrações sem desanimar, sem desistir. O consumo
constante de maconha faz com que a pessoa assuma em atos, mas não
necessariamente com palavras, que a maconha é uma das coisas mais importantes
da vida dele. Depois de alguns anos de uso, independentemente dos efeitos
biológicos, a maconha assumia uma posição na hierarquia de valores bastante
nociva. Possuir uma hierarquia de valores significa que só um valor pode estar
em primeiro lugar, só um valor pode estar em segundo lugar, só um valor pode
estar em terceiro lugar, assim sucessivamente. Quando um usuário de maconha
passa a ter sucesso nos estudos torna-se objeto de referência para o grupo,
todos acreditam que se fulano venceu apesar de fumar, cada um pode vencer
também e se fracassar não será por causa da maconha. Essas deduções são tiradas
de forma imediata, mas estamos falando do que acontece ao longo dos anos.
Vencer na vida não é vencer uma só batalha, mas lutar sempre. Essa disposição é
incompatível com fumar maconha freqüentemente. Quando uma pessoa experimenta o
sabor da vitória pelo seu próprio esforço tende a deixar o uso da maconha por
perceber que a vitória na vida é mais saborosa. Há personalidades em nossos
dias que alcançaram elevado destaque no cenário nacional, por merecimentos
próprios e justos, tendo eles sido usuários de maconha. Esses, freqüentemente,
são usados como exemplos de que fumar não fará mal. A diferença é que essas
pessoas abandonaram ou quase isso, quando alcançaram o sucesso. Aqueles que
alcançam o sucesso e continuam usando a maconha têm muito mais chances de
perderem o que conquistaram, do que aqueles que abandonaram o uso, substituíram
o valor da maconha por outro melhor.
Motivações
Por
que fumar maconha? Os motivos são basicamente os mesmos para a maioria dos
usuários. Numa pesquisa com 345 usuários de maconha foram feitas várias
perguntas a respeito dos motivos porque geralmente se usa a maconha. Os mais
freqüentes estão abaixo relacionados.
Relaxar
96,8%
Curtir
os efeitos 90,7%
Melhorar
o desempenho na prática de jogos, esportes e música 72,8%
Superar
aborrecimentos 70,1%
Ajudar
a dormir 69,6%
Sentir-se
melhor 69,0%
Síndrome
Amotivacional
Esta
síndrome é caracterizada por apatia, dificuldade de concentração, isolamento
social, perda no interesse em novas aquisições. Suspeita-se que isso possa ser
decorrente de uma diminuição do fluxo sanguíneo cerebral provocado pela maconha
usada durante muitos anos.
Uso
Medicinal
O uso
do delta 9 tetrahidrocanabinol (originária da planta Cannabis sativa), o
princípio ativo da maconha, ou farmaceuticamente denominada canabis, vem sendo
ultimamente defendido para uso no controle da dor crônica e do enjoo causado
por tratamentos para câncer. Nesse tema, contudo, misturam-se motivos e
ideologias pessoais para se aprovar ou desaprovar. Essas bases de conduta são
frágeis e geralmente desrespeitadas. Somente um motivo externo poderá pôr fim a
discussão: a pesquisa dos benefícios sobre os custos. Seria reprovável, sob
pretexto de uso medicinal, aprovar uma substância para ser na verdade usada de
forma recreativa. No Brasil existe um sério problema quanto ao uso de
anorexígenos usados para o tratamento da obesidade mórbida: apenas 10% dessas medicações
seguem as vias legais, o restante encontra-se no mercado paralelo causando
sérios problemas sociais e pessoais. Liberar uma substância reconhecidamente
como psicotrópico, ainda que não seja para essa finalidade, poderá causar o
mesmo problema que enfrentamos com os anorexígenos.
A
forma imparcial e confiável de se verificar a vantagem do uso medicinal da
maconha é através da pesquisa científica. Um trabalho publicado em julho de
2001 comparando o efeito analgésico da maconha aos demais analgésicos no
mercado não encontrou vantagens da introdução da maconha com esse fim. Uma
indústria farmacêutica antes de lançar uma medicação no mercado precisa
constatar uma vantagem objetiva, seja pelo custo seja pelos benefícios ou
menores efeitos colaterais. Sem isso a comercialização não é permitida.
1. PSICOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS
- 2ª EDIÇÃO PAULO DALGALARRONDO - Editora Artmed
2.
PSICOPATOLOGIA - TEORIA E CLÍNICA - 9ª ED. J. BERGERET - Editora Bookman
3.
PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA CONTEMPORÂNEA - MESSAS, GUILHERME PERES -
Editora Roca. 4. Neuropsychological
Performance in Long-term Cannabis Users - Pope Harrison
Por Fernando Vieira Filho é psicoterapeuta, é especialista em Terapia com Florais de Bach e autor do livro - Cure suas Mágoas e Seja Feliz! - Barany Editora - São Paulo 2012
Por Fernando Vieira Filho é psicoterapeuta, é especialista em Terapia com Florais de Bach e autor do livro - Cure suas Mágoas e Seja Feliz! - Barany Editora - São Paulo 2012
(55 11) 99684-0463 (São Paulo e
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