Fonte(1)
Uma equipe de médicos da Santa Casa de São Paulo está
testando, em dependentes de crack, um tratamento contra a depressão
desenvolvido nos Estados Unidos.
Nada de remédios. É com ondas elétricas que a senhora A.M. está tratando da depressão,
transtorno de ansiedade e de dores nas articulações. A paciente recebe as ondas
elétricas meia hora por dia, durante 10 dias. Depois, as sessões passam a ser
quinzenais por seis meses. Os primeiros resultados são animadores.
“Hoje estou sem os remédios, hoje eu durmo tranquilamente.
Consigo fazer todas as minhas tarefas, sem me desesperar por nada”, afirma a
funcionária pública A.M.
Os eletrodos instalados na testa do paciente enviam ondas
elétricas até as áreas do sistema nervoso central, que regulam o comportamento.
Os neurônios, as células cerebrais, reagem ao estímulo e voltam a funcionar em
níveis normais. Na depressão, eles têm atividade baixa e na ansiedade, alta.
Como essa técnica vem dando bons resultados, especialmente
nos casos de depressão e transtorno de ansiedade, os médicos viram aí uma
possibilidade de usar o mesmo tratamento para ajudar o usuário do crack a
largar o vício, a vencer uma das principais barreiras, a sensação de fissura, a
vontade incontrolável de consumir a droga.
“O que motivou a gente a iniciar essas pesquisas é o fato de
todos esses pacientes partilharem algum sintoma em comum. Por exemplo, sintomas
ansiosos, sintomas depressivos são muito frequentemente observados em pacientes
usuários de crack”, conta Pedro Shiozawa, psiquiatra da Santa Casa/SP.
Um paciente usou crack por dez anos. Foi internado duas
vezes mas não conseguiu largar a droga. Com apoio da família e de uma ONG,
começou o tratamento.
Com os eletrodos instalados, o paciente assiste a um vídeo
com imagens da droga que, normalmente, provocam fissura nos usuários. Com as
ondas elétricas, ele diz que o desejo incontrolável não aparece.
“Não vem fissura, não vem o desejo da droga. Creio que isso
com certeza ajuda, sim. Porque vai ficar gravado, na memória da gente, que a
gente conseguiu driblar esse momento e não sentir a fissura”, conta.
O médico ressalta que não se trata de cura mas de una nova
ferramenta para ajudar os usuários a se livrarem da droga. “A ideia nossa é,
claro, não deixar esses dados só no meio médico. Mas pleitear junto ao Conselho
de Medicina a aprovação dessas estratégias, junto com outras comunidades
terapêuticas, lugares que façam tratamento para otimizar a resposta dos
doentes”, afirma o psiquiatra.
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Edição do dia 17/01/2014 – do Jornal Nacional –
Rede Globo
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