BIPOLAR – QUANDO O SOFRIMENTO VARIA ENTRE DOIS EXTREMOS



Por Fernando Vieira Filho(1)

O transtorno afetivo bipolar (TAB) era conhecido, há algum tempo atrás como psicose maníaco-depressiva. Esse nome foi desconsiderado porque este transtorno não apresenta necessariamente sintomas de psicose, em verdade, na maioria das vezes esses sintomas não se manifestam. Os transtornos afetivos não estão com sua classificação concluída. Com certeza, nos próximos anos aparecerão novos subtipos de transtornos afetivos, melhorando a precisão dos diagnósticos. O importante é compreender o que vem a ser o transtorno bipolar.
A alternância de estados depressivos com maníacos (estado de euforia) é a tônica dessa desarmonia mental. Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha uma fase depressiva receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente um episódio maníaco (eufórico) tem na verdade o transtorno bipolar, mas até que a mania surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro. O termo mania é popularmente entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa (fala muito, fica muita chata, inconveniente, etc.). Mania em psicologia significa um estado exaltado de humor que será descrito mais detalhadamente adiante.

Características mais aparentes:

O início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 18 a 30 anos de idade, mas pode começar mesmo após os 65 anos. O início pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca (exaltada, eufórica), iniciando gradualmente ao longo de semanas, meses ou de repente em poucos dias, já com sintomas psicóticos o que muitas vezes confunde com síndromes psicóticas. Além dos quadros depressivos e maníacos, há também os quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes confunde os médicos e terapeutas retardando o diagnóstico da fase em atividade

Tipos mais comuns:

Hoje em dia, os estudiosos aceitam uma divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. Para facilitar, o tipo I é considerado a forma clássica em que a pessoa apresenta os episódios de mania (fase de euforia) alternados com os depressivos (amuado, caladão, quieto, triste, etc.). As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por maníacas. Usualmente, observa-se muito mais uma tendência dos pacientes a apresentarem várias crises de um tipo e poucas do outro, há pacientes bipolares que nunca apresentaram fases depressivas e há deprimidos que só tiveram uma fase maníaca enquanto as depressivas foram numerosas. O tipo II caracteriza-se por não apresentar a fase de mania, mas de hipomania (que é uma alteração de humor semelhante à mania, porém com menor intensidade) com a depressão.

Fase maníaca (eufórica, exaltada, verborrágica)

De modo geral leva de uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar meses. O estado de humor está elevado podendo isso significar uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva. Junto a essa elevação encontram-se alguns outros sintomas como elevação da autoestima, sentimentos de grandiosidade podendo chegar à manifestação de “mania de grandeza” considerando-se uma pessoa muito especial, dotada de poderes e capacidades únicas. Aumento da atividade motora apresentando grande vigor físico e apesar disso com uma diminuição da necessidade de sono (insônia). A pessoa apresenta uma forte pressão para falar sem parar (verborragia), as ideias correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou e ficar sempre emendando uma ideia não concluída em outra sucessivamente: a isto denominamos fuga-de-ideias. A pessoa apresenta uma elevação da percepção de estímulos externos levando-o a distraírem-se constantemente com pequenos ou insignificantes acontecimentos alheios à conversa em andamento. Aumento do interesse e da atividade sexual. Perda da consciência a respeito de sua própria condição de desarmonia mental, tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente (chata) ou insuportável. Envolvimento em atividades potencialmente perigosas sem manifestar preocupação com isso. Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia (delírios, escuta vozes etc) o que não significa uma mudança de diagnóstico, mas mostra um quadro mais grave quando isso ocorre.
Um exemplo de como uma pessoa se sente na fase de mania:
Ela se sente bem, realmente muito bem, quase invencível. Ela se sente como não tendo limites para suas capacidades e energia. Poderia até passar dias sem dormir. Ela está cheia de ideias, planos, conquistas e se sentiria muito frustrada se a incapacidade dos outros não a deixasse ir além. Ela mal consegue acabar de expressar uma ideia e já está falando de outra numa lista interminável de novos assuntos. Em alguns momentos ela se aborrece para valer, não se intimida com qualquer forma de cerceamento ou ameaça, não reconhece qualquer forma de autoridade (não tem limites) ou posição superior a sua. Com a mesma rapidez com que se zanga, esquece o ocorrido negativo e age, como se nada tivesse acontecido. As coisas que antes não a interessavam mais lhe dão prazer agora; mesmo as pessoas com quem não tinha bom relacionamento, são para ela amistosas e bondosas. Você já viu pessoas neste estado? Com certeza.

 Fase depressiva

É de certa forma o oposto da fase maníaca, o humor está depressivo, a autoestima em baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física esta comprometida, pois a sensação de cansaço é constante. As ideias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção é difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas em geral é perdido bem como o prazer na realização daquilo que antes era agradável. Nessa fase o sono também está diminuído (insônia), mas ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou descanse, uma vez que o paciente acorda indisposto. Quando não tratada a fase depressiva podem durar meses também.

Sintomas maníacos:

• Sentimento de estar no topo do mundo com uma alegria e bem estar inabaláveis, nem mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis diretamente ligados ao paciente podem abalar o estado de humor. Nessa fase a pessoa ri da própria desgraça.
• Sentimento de grandeza, o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder político. Inicialmente quando os sintomas ainda não se aprofundaram o paciente sente-se como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do quadro esta idéia torna-se uma convicção delirante.
• Sente-se invencível, acham que nada poderá detê-las.

• Hiperatividade, as pessoas nesta fase não conseguem ficar paradas, sentadas por mais do que alguns minutos ou relaxar.
• O senso de perigo fica comprometido, e envolve-se em atividade que apresentam tanto risco para integridade física como patrimonial.
• O comportamento sexual fica excessivamente desinibido e mesmo promíscuo tendo numerosos parceiros num curto espaço de tempo.

• Os pensamentos correm de forma incontrolável para o próprio paciente, para quem olha de fora a grande confusão de ideias - na verdade constitui-se na interrupção de temas antes de terem sido completados para iniciar outro que por sua vez também não é terminado, e assim sucessivamente, numa fuga de ideias.
• A maneira de falar geralmente se dá em tom de voz elevado, cantar é um gesto frequente nesses pacientes.
• A necessidade de sono nessa fase é menor, com poucas horas o paciente se restabelece e fica durante todo o dia e quase toda a noite em hiperatividade.
• Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer, geralmente provocadas por algum motivo externo, mas da mesma forma como aparece se desfaz.

Sintomas da fase depressiva:

Na fase depressiva ocorre o posto da fase maníaca, a pessoa fica com sentimentos irrealistas de tristeza, desespero e autoestima baixa. Não se interessa pelo que costumava gostar ou ter prazer, cansam-se à-toa, tem pouca energia para suas atividades habituais, também tem dificuldade para dormir, sente falta do sono e tende a permanecer na cama por várias horas. O começo do dia (a manhã) costuma ser a pior parte do dia para os deprimidos porque eles sabem que terão um longo dia pela frente. Apresenta dificuldade em se concentrar no que faz e os pensamentos ficam inibidos, ficam lentos, faltam idéias ou demoram para a ser compreendidas e assimiladas. Da mesma forma a memória também fica prejudicada. Os pensamentos costumam ser negativos, sempre em torno de morte ou doença. O apetite fica inibido e pode ter perda significativa de peso.

Em geral:

Entre uma fase e outra a pessoa pode ser normal, tendo uma vida como outra pessoa qualquer; outras pessoas podem apresentar leves sintomas entre as fases, não alcançando uma recuperação plena. Há também pessoas, uma minoria, que não se recuperam, tornando-se incapazes de levar uma vida normal e independente.

O que causa esta doença?

Ninguém chegou a um consenso, a causa propriamente dita ainda é desconhecida, mas há fatores que influenciam ou que precipitem seu surgimento como parentes que apresentem esse problema (hereditariedade), traumas, incidentes ou acontecimentos fortes como mudanças impostas, troca de emprego, fim de casamento, morte de pessoa querida, ódio por pessoas a quem se muito amou, etc.
Em aproximadamente 80 a 90% dos casos os doentes apresentam algum parente na família com transtorno bipolar.

Como se trata?

Primeiro lugar consulte seu médico ou psicoterapeuta de confiança. 
Mas de forma geral, nestas fases mais agudas de mania pode se usar de forma temporária os antipsicóticos. Quando há sintomas psicóticos é quase obrigatório o uso de antipsicóticos. Nas depressões resistentes pode-se usar antidepressivos com muita cautela. Há pesquisadores e estudiosos que condenam o uso de antidepressivo para qualquer circunstância nos pacientes bipolares em fase depressiva, por causa do risco da chamada "virada maníaca", que consiste na passagem da depressão diretamente para a exaltação num curto espaço de tempo.
O tratamento com lítio ou algum anticonvulsivante deve ser definitivo, ou seja, está recomendado o uso permanente dessas medicações mesmo quando o doente está completamente saudável, mesmo depois de anos sem ter problemas. Esta indicação se baseia no fato de que tanto o lítio como os anticonvulsivantes podem prevenir uma fase maníaca poupando assim a pessoa de maiores problemas. Infelizmente o uso contínuo não garante ao doente que ele não terá recaídas, apenas diminui as chances disso acontecer.
O paciente tem que se conscientizar e aceitar que o uso dos medicamentos será para o resto de sua vida, para que ele tenha uma boa qualidade de vida.
É importante para o doente e sua família, exercitarem a religiosidade, seja ela de qualquer denominação, para uma conexão com o Pai Maior. A fé tem se mostrado eficaz em qualquer tratamento de saúde mental e física. 

      (1)  Fernando Vieira Filho / Psicoterapeuta Clínico / Palestrante
e autor do livro - Cure suas Mágoas e Seja Feliz! - Barany Editora - São Paulo 2012
 (55 34)  3077-2721  (Uberaba)

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